sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Estão querendo banalizar a tortura


Tenho visto recentemente nas redes sociais, devido ao período eleitoral, vários textos dizendo o que "também é tortura".
Sim, pode-se dizer que é torturante para uma mãe ver um filho sofrendo, doente, por não ter condições financeiras de dar o devido tratamento. Principalmente se a verba necessária tiver sido desviada por atos corruptos.
Pode-se dizer que é torturante perder todos os bens e muitas vezes a vida de algum parente, porque cobraram por material de primeira e usaram material de segunda, no prédio que desabou sobre a moradia de alguém,
Pode-se dizer que é torturante passar dias e dias, andando atrás de emprego e não conseguir.
Tudo isso é muito ruim, muito errado e se há pessoas responsáveis, direta ou indiretamente, deveriam ser devidamente punidas.
Mas isso NÃO É TORTURA. Não literalmente. Tortura, pelo que eu entendo, é um conjunto de técnicas empregadas especificamente para destruir a resistência de alguém, atacando a pessoa fisicamente e psicologicamente, de modo que ela confesse ou aceite algo, ou diga alguma informação.
Tortura já foi usada na Inquisição, para as pessoas confessarem terem sido infiéis a Deus ou serem bruxas e se "converterem na marra". Sim, cristãos também foram e são torturados para mudarem sua fé também.
Tortura é o o que o Capitão Nascimento faz no filme Tropa de Elite (nos dois, mais principalmente no primeiro) para obter informações sobre e fazer sua "investigação". Que é o que acontece na polícia, em alguns casos, porque não se tem recursos, se desconhece ou se acostumou com esse método para ter informações.
Tortura é o que Jack Bauer fez em algumas temporadas de 24horas, quando, por exemplo, dá a entender que irá matar a filha de um dos bandidos.
Tortura é usada por terroristas, tortura é usada em guerras e foi usada na Ditadura aqui no Brasil.
Claro, nem preciso dizer que isso não é visto como correto por muita gente, por vários motivos e que, convenhamos, não tem garantia de que seja eficaz. Sob tortura, muitos inocentes confessam ter cometido crimes que não cometeram, apenas para ficarem livres da mesma.
Não vou aqui ficar descrevendo técnicas de tortura. Isso você acha fácil na internet ou em documentários. Sugiro ver um pouco, até onde o estômago aguentar.
Só o que digo é, PARE DE JOGAR TUDO NO MESMO SACO, só para aliviar sua consciência do fato que votou em tal candidato que defende, ou é fã de quem foi, historicamente, um torturador.
Você pode até dizer que é uma tortura ficar ouvindo uma hora de funk ou sertanejo universitário, isso é força de expressão, mas não é a mesma coisa que ter seus dedos quebrados, um a um, por exemplo, não é?
Quando se banaliza, você enfraquece a palavra. Enfraqueceram a palavra comunista, a palavra fascista, o que é muito perigoso, pois quando aparece alguém que é verdadeiramente fascista ou comunista, ninguém reconhece.
Não façam o mesmo com a tortura.

Foto copiada daqui: https://veja.abril.com.br/mundo/china-usa-tecnicas-de-tortura-para-extrair-confissao-de-suspeitos-diz-anistia/

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

A polêmica sobre a série Super Drags


A nota de repúdio de um deputado do Acre, pedindo providências ao Ministério Público, além do pedido de cancelamento da série, feita pela Sociedade Brasileira de Pediatria, mostram, mais uma vez, que as pessoas parecem não entender muito do meio sobre o qual estão falando.
Não critico a preocupação com o que as crianças assistem. Ela é necessária, claro. O que eu critico são os argumentos e as exigências.
Animações ("desenhos") para jovens adultos/adultos existem há anos e a Netflix tem vários exemplos, inclusive mais "pesados" que Super Drags (Police Paradise, Big Mouth, Rick & Morty...). Mas todos tem classificação de idade e não vão aparecer no perfil KIDs,
A série é classificada para acima de 16 anos, ou seja não é para crianças. E isso fica bem claro.
"Ah, mas a série mostra heróis e quem se interessa por heróis? As crianças."
Não. É só prestar um pouco de atenção no mundo do entretenimento para perceber que heróis sempre fizeram sucesso com crianças E adultos. Há vários conteúdos de heróis para adultos, na Netflix (Demolidor, Justiceiro, Defensores...) e no cinema (Logan, Deadpool). Crianças se interessam? Claro, mas aí é que entra um item até então ignorado: a responsabilidade dos pais.
Se você, pai, não fica atento ao que seu filho assiste na internet, se ele está acessando seu perfil da Netflix, a culpa não é da plataforma, é sua.
Até porque ele pode ver conteúdo não indicado no Youtube ou em outros sites explicitamente adultos, muito piores que a série.
Ou seja, os pais tem de assumir a responsabilidade pelo que os filhos assistem/fazem na internet e o governo e organizações deveriam se preocupar em como tornar isso possível.
Em tempo: no link da matéria, há uma imagem em que Netflix responde a uma mensagem do deputado, no Twitter, mostrando como colocar senha para que não se possa ver nada a partir de determinada classificação etária. Ou seja, recursos há. Basta informação.

Leia também: https://jovemnerd.com.br/nerdbunker/super-drags-deputado-pede-providencias-ao-ministerio-publico-em-relacao-a-animacao/